cover
Tocando Agora:

Mães de paranaenses desaparecidos na guerra da Ucrânia sofrem com críticas aos filhos nas redes: 'Não pensam em uma mãe lendo'

Mães de desaparecidos na guerra da Ucrânia sofrem com falta de informações e críticas 22 de dezembro de 2024. Esta é a última data em que a paranaense Al...

Mães de paranaenses desaparecidos na guerra da Ucrânia sofrem com críticas aos filhos nas redes: 'Não pensam em uma mãe lendo'
Mães de paranaenses desaparecidos na guerra da Ucrânia sofrem com críticas aos filhos nas redes: 'Não pensam em uma mãe lendo' (Foto: Reprodução)

Mães de desaparecidos na guerra da Ucrânia sofrem com falta de informações e críticas 22 de dezembro de 2024. Esta é a última data em que a paranaense Aliteia Cornelo conversou e teve certeza de onde e como estava o seu filho único, Gabriel Lopacinski. Natural de Mallet, no sul do Paraná, o jovem de 22 anos embarcou três meses antes rumo à Ucrânia, para lutar pelo país dos seus antepassados na guerra contra a Rússia. Menos de um mês depois, em janeiro de 2025, a família de Gabriel foi contatada por um soldado que se apresentou como amigo dele e informou que o jovem havia morrido em combate. No entanto, desde então a família não tem notícias sobre o corpo do rapaz – e para o governo brasileiro ele é considerado "desaparecido em combate". A falta de informações sobre o filho único é causa de sofrimento diário para Aliteia. Além disso, ela ainda têm que suportar outro sentimento: ver críticas nas redes sociais sobre as escolhas do jovem – feitas, muitas vezes, por quem não conheceu a história, os sonhos e a realidade do jovem. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 PR no WhatsApp "É uma luta diária. A gente somente sobrevive, um dia após o outro, porque é uma tortura sem fim", desabafa. Aliteia Cornelo e o filho, Gabriel Lopacinski Cedida pela família Atualmente, o Paraná abriga a maior comunidade ucraniana da América Latina, e a mesma situação é compartilhada por Aliteia é vivida por outras mães do estado. Maria de Lourdes Lopes da Silva está desde 15 de junho deste ano em busca de respostas sobre o paradeiro do filho, Wagner da Silva Vargas, de 29 anos. Wagner saiu em março de Ampére, no sudoeste do Paraná, para lutar como voluntário pela Ucrânia por seis meses. Quase quatro meses após a partida, Maria de Lourdes recebeu uma ligação da Embaixada do Brasil em Kiev comunicando o desaparecimento do jovem. Assim como Gabriel, ele recebeu muitas críticas nas redes sociais. Comentários nas redes sociais criticam brasileiros que vão à Ucrânia lutar pela guerra Reprodução/Redes Sociais Entenda: Como cidade do PR se consolidou como a Ucrânia brasileira Para Maria, julgar a decisão do filho é desconsiderar os desejos que ele tinha. “A gente sofre, claro, mas ninguém tem o direito de criticar quem escolheu seguir um caminho diferente. O que mais quero agora é uma resposta. Julgar não vai ajudar. [...] Tem gente que diz: ‘O que foi fazer lá?’, mas eu nem respondo. Cada um tem um sonho, e a gente precisa respeitar. Eu não incentivei, mas também não proibi. Ele queria realizar um sonho”, afirma. Mesmo diante dos ataques, ela diz não guardar mágoas. “Também não julgo quem comenta. Não tenho maldade no coração. Só quero meu filho de volta”, diz. Maria de Lourdes Lopes da Silva e o filho, Wagner da Silva Vargas Cedidas pelas famílias Leia também: Investigação: Vídeo mostra servidor batendo ponto em prefeitura e indo embora sem trabalhar Previsão: Paraná terá mais duas ondas de frio com geadas em julho, diz Simepar Surpresa: Taxista encosta para tirar caixa da rua e encontra R$ 5 mil em semijoias 'Falta de empatia' Aliteia comentou a própria experiência na notícia sobre o desaparecimento do filho de Maria Reprodução/Redes Sociais Aliteia desabafou, nas redes sociais, sobre as críticas. Ela comentou a própria experiência na notícia sobre o desaparecimento do filho de Maria – e recebeu uma resposta de apoio, e outra ironizando a situação. "Vendo esses comentários maldosos, eu chego à conclusão que o ser humano não tem empatia nenhuma. Por isso que o mundo está do jeito que está... As pessoas opinam sobre qualquer situação [...] Elas não pensam que uma mãe está lendo, um pai está lendo", disse ela, ao g1. O dicionário começa definindo a palavra empatia como a "habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa". Para Aliteia, o problema se deve principalmente à falta disso. "Todo mundo acha que é super-herói, que nunca vai acontecer nada na sua família, e a maldade do ser humano infelizmente está tomando conta", desabafa. Sentimento de mãe Desenho feito por Gabriel Lopacinski, quando ele era criança Arquivo pessoal Aliteia Cornelo lembra que, quando criança, Gabriel pintava desenhos que remetiam à guerra. Veja um deles acima. Hoje, ela considera que ele ter escolhido ir para o combate podia ter relação com uma "missão" que o filho tinha que cumprir na vida, por isso, respeitou a decisão do jovem. "Eu creio que a missão dele era alguma coisa lá e ele tinha que ir. Todo mundo tem uma missão: ser médico, ser enfermeira... e a dele era lá. [...] Ele estava muito feliz! Eu dizia: 'Filho, volte para cá, volte para casa, olha o perigo'. E ele falava pra mim: 'Mãe, o perigo está em todo o lugar. Se for para acontecer qualquer coisa vai acontecer aqui, no Paraná, onde eu estiver", lembra. Maria de Lourdes Lopes da Silva pensa de forma semelhante. Ela conta que o filho organizou a ida à Ucrânia ao lado de colegas de trabalho que também manifestaram interesse em lutar como voluntários, e estava feliz com isso. "Ele me ligou e disse: ‘Mãe, é um sonho. Vou ficar seis meses e depois volto para ficar com você. Ele comprou passagem de ida e volta, disse que voltaria em outubro. Eu pensei que seis meses passariam rápido”, recorda. Paranaense Wagner da Silva Vargas, de 29 anos, está desaparecido desde junho após combate na guerra da Ucrânia Arquivo pessoal Em ambos os casos, a preocupação persiste tanto quanto a esperança no coração das mães. A cada barulho de notificação no celular, Maria corre para verificar se é o filho. A cada dia que acorda, Aliteia também sonha em ter notícias do primogênito. "Até o último minuto da minha vida eu vou carregar essa dor, eu vou ter a esperança de que ele vai estar aqui comigo, que ele vai voltar. Esse é o meu desejo, até o dia que eu morrer: que ele vai voltar, que ele vai estar aqui comigo, que tudo isso era só um pesadelo", diz Aliteia. Para Aliteia, o filho é um herói. "Ele é guerreiro. Sempre foi corajoso, sempre foi de enfrentar, sempre foi decidido. Ele nunca se acovardou diante de situação nenhuma. Então para mim, ele sempre vai ser um herói", afirma. Paranaense Gabriel Lopacinski foi à Ucrânia lutar pelo país na guerra contra a Rússia Cedidas pela família Veja as últimas notícias sobre a guerra na Ucrânia Vídeos mais assistidos do g1 PR: Leia mais notícias em g1 Campos Gerais e Sul.